História do Gado Americano

Existem várias teorias sobre a origem dos bovinos domésticos (Athanassof, 1953). Analisando sob qualquer critério, os pesquisadores concordam que o tronco ibérico é descendente imediato do Uro europeu (Bos taurus primigenius), domesticado provavelmente na zona pirenaica a partir do período paleolítico (Rouse, 1977).

Bos taururs primigeniusUro ou Arouque (Bos taurus primigenius)

Os pesquisadores adeptos da teoria polifilética acreditam que algumas raças da península ibérica receberam contribuição do Bos taurus hamiticus, bovinos de chifres longos, domesticados pelos hamitas no Egito antigo (Athanassof, 1953). 

O gado crioulo americano descende diretamente dos animais que vieram na segunda viagem de Cristóvão Colombo em 1493 (Primo, 1992). Estes animais, assim como as levas seguintes, chegaram à ilha Espanhola, atualmente República Dominicana e Haití. 

Partindo desta base na Ilha Espanhola, os espanhóis iniciaram sua dispersão para toda a América do Sul, tanto que em 1524 já havia relato da existência de bovinos em quase todo o continente (Primo, 1992).

Sevilha detinha a exclusividade de organizar os embarques de gado espanhol para a América. Alguns autores afirmam que também vieram gado da Galícia e das Ilhas Canárias.

A partir da Ilha Espanhola o gado foi introduzido na Colômbia e Venezuela. Em 1548 os espanhóis introduziram gado no Peru. A partir de Lima dispersou-se para a Bolívia, Paraguai e Chile.

A outra frente de introdução de gado na América do Sul foi o gado de origem portuguesa a partir de São Vicente.

A introdução dos primeiros rebanhos bovinos em São Vicente ocorreu entre maio de 1533 e março de 1534 a mando de Ana Pimentel, mulher e procuradora de negócios do capitão-mor Matim Afonso de Sousa.(Porto,1954)

Este gado teria vindo de Cabo Verde, onde as armadas com destino ao Novo Mundo se abasteciam. (Gandavo, 1924)

De São Vicente, navegadores espanhóis levariam para as possessões do Prata, onde se mesclaria com o gado espanhol.

Já em 1552, ocorreriam no Paraguai os primeiros “lachers”, reses soltas na região (Deffontaines, 1953). Em 1556, na expedição de Juan de Salazar, os irmãos Góis de São Vicente, embarcam gado para Assunção, um touro e algumas vacas, as famosas “sete vacas de Gaete”, cuja progênie inicia a povoação dos pampas argentinos. Em 1569 a expedição de Felipe de Cáceres traz, do Peru, bovinos, eqüinos e caprinos para Assunção.

Em 1573, Juan de Guaray funda Santa Fé e introduz nesta região gado vindo de Assunção. Em 1580 este gado é levado também para Buenos Aires (Porto). Já em 1580 seguia para a Espanha o primeiro carregamento de couro produzido em Buenos Aires (Southey, 1954).

Em 1585, Pedro Sarmiento de Gamboa deixa gado vicentista no Estreito de Magalhães. Em 1587, Alonso de Vera y Aragon introduz gado paraguaio no Chaco. Em 1588, Juan Torres de Vera y Aragon introduz gado paraguaio na província de Corrientes.

A povoação de gado no Uruguai foi feita pelos jesuítas, a partir de 1620, nas Missões do Alto Uruguai e por Fernando Arias de Saavedra (Governador Hernandarias) que em 1611 deixa gado em Las Vacas, perto de Colônia, na margem setentrional do Rio da Prata e em 1617, na Ilha Vizscaíno (Deffontaines, 1953).

Também importante foi a contribuição dos jesuítas dos Sete Povos das Missões que entre 1637 e 1682 introduziram fartos rebanhos correntinos na região oeste do Rio Grande do Sul. Nas reduções os jesuítas mantinham em média 500.000 cabeças de gado (Porto). Este gado de origem vicentina e espanhola, bem depressa se acriolou e se multiplicou ocupando os campos nativos dos pampas sulinos. Calcula-se que no início do século XVIII somaria 50 milhões de cabeças (Deffontaines, 1953).

Com a descoberta e exploração pelos espanhóis das vacarias do mar no final do século XVII, os previdentes jesuítas resolveram criar novas reduções e estâncias de gado no noroeste do Rio Grande do Sul, com o objetivo de garantir o suprimento da região missioneira. Em 1700, ocupam os campos da Vacaria dos Pinhais, onde fundam uma estância. Em 1712, os jesuítas transferem para a Vacaria dos Pinhais 80.000 reses mansas e as deixam encerradas para que se multiplicassem. Calcularam que no prazo de oito anos o rebanho atingiria 500.000 cabeças, quando então poderia suprir as necessidades das reduções (Porto e Faria, F. S., 1738).

Em 1730, a expedição que abriu o Caminho dos Conventos, que ligaria Laguna a São Paulo, acabou descobrindo a Vacaria dos Pinhais e seu comandante sargento-mor Francisco de Souza e Faria estimou haver 200.000 cabeças de gado somente na região costeira do planalto sul brasiliero, no sudeste de Lages (Faria, F. S., 1738). A partir da abertura deste caminho, todo este potencial de riqueza pôde ser explorado, surgindo então o ciclo do tropeirismo, quando o gado apresado no sul era transportado por tropeiros para servir de alimentação e serviço nas regiões mineiras do Brasil Central, completando desta forma o ciclo de expansão do gado crioulo na América do Sul.

Duarte, J. R. 2010. Especial para o site https://fazendagrande.net/

Referências

Arruda Filho, J. M. Coisas do Passado. 1954.
Athanassof, N. Manual do Criador de Bovinos. Edições Melhoramentos, 1953, pp. 34 a 37.
Costa, L. Continente das Lagens, Editora FCC, 1979.
Ehlke, C. A Conquista do Planalto Catarinense. Editora Laudes, 1973, pp. 120 a 124.
Deffontaines, P. História do Gado nos Países do Prata, Particularmente no Uruguai, Boletim Geográfico, Edição do Cons. Nac. de Geografia, ano XI, maio-junho de 1953, nr. 114.
Faria, F.S. Carta do Sargento Mor Francisco de Souza e Faria ao Revmo. Pe. Diogo Soares de 21/02/1738
Primo, A. T. Os bovinos ibéricos nas Américas. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, Rio de Janeiro. Anais.... Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1993. p. 183-199.
Porto, A. História do Gado no Brasil, in Ver. Do Museu Júlio de Castilhos e Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, ano 1, nr. 1, pp. 436 a 480.
Porto, A. História das Missões Jesúiticas
Rouse, J.E. The Criollo, Spanish Cattle in the Americas. University of Oklahoma Press, Norman, 1977, p. 303.
Southey, R. História do Brasil. Livraria Progresso Editora, 1954, p. 273.
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