Segundo a maioria dos pesquisadores, os rebanhos crioulos do sul do Brasil são fruto do cruzamento de rebanhos trazidos por portugueses e espanhóis. As primeiras remessas de gado português chegaram em São Vicente, provenientes de Portugal e Cabo Verde, em 1534. Os primeiros rebanhos de gado espanhol, provenientes de Sevilha, desembarcaram na Ilha Espanhola a partir da segunda viagem de Cristóvão Colombo, em 1493.
A introdução inicial de rebanhos bovinos nos campos de cima da serra, se deve a ação dos jesuítas, que transferiram gado no início do século XVIII, das Vacarias del Mar para os campos de cima da serra, formando as Vacarias del Piñar.(Cardiel, 1772)
Além do gado introduzido pelos jesuítas, há registros de expedições espanholas que passaram pelo planalto catarinense em direção à Assunção, como a de Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca. Também os bandeirantes passaram pelo planalto em direção às Reduções Jesuíticas. Embora não haja registros, é possível que algumas destas expedições tivessem abandonado gado ao longo do caminho.
Quando os pioneiros chegaram para estabelecer suas fazendas em Lages, o gado já havia escasseado, pela ação devastadora dos lagunistas e pelo tráfego de tropeiros pelo caminho das tropas, aberto por Cristovão Pereira de Abreu.(Cardiel, 1772)
Então pioneiros, como Joaquim José Pereira (Fazenda Grande) e Antonio José Pereira (Fazenda Curitibanos), tropearam rebanhos bovinos e equinos das planícies gaúchas para a povoação das primeiras fazendas de Lages.
O fluxo constante de tropeiros pelos campos das lages, também deve ter influenciado na formação dos rebanhos crioulos do sul, a partir da instalação das primeiras fazendas, visto que eram bons mercadores e certamente foram responsáveis pela introdução de matrizes e reprodutores trazidos de outras regiões.
Ao longo dos séculos os rebanhos crioulos do sul sofreram processo de seleção natural com pouca interferência do homem, visto que as fazendas da região não eram cercadas e o gado era reunido anualmente, nos rodeios, para contagem e retirada do desfrute. Isso possibilitou que o gado crioulo se adaptasse plenamente às condições de clima e pastagem da região.
Este gado dominou os campos nativos do sul do Brasil até o início do século XX, quando começaram a ser introduzidas as modernas raças européias.
Com a introdução de outras raças no planalto serrano, este importante material genético só foi preservado graças ao árduo trabalho desenvolvido por alguns criadores da região de Lages (SC), dentre os quais destacamos José Maria de Arruda Filho e Viterbo Camargo(Painel), Leovegildo Didi de Souza(Lages), e Pedro de Souza(Urupema).
Todavia, o gado crioulo lageano só chegou ao século XXI graças ao trabalho abnegado dos preservacionistas Nelson de Araújo Camargo e Antonio Camargo.
O Sr. Nelson de Araújo Camargo iniciou a criação de gado crioulo em 1953, quando adquiriu parte do rebanho de seu sogro Leovegildo Didi de Souza.
Um pouco mais tarde, em 1960, depois de se convencer das qualidades do gado crioulo, o Sr. Antonio Camargo passou a formar um plantel, garimpando os últimos exemplares existentes nos confins do Planalto Lageano.
Na década de 80, o gado crioulo atraiu interesse de muitos pesquisadores, graças a sua importância histórica e as suas peculiaridades.
Considerando a condição de grupamento racial único e seguindo os parâmetros internacionais para designação das raças bovinas, os pesquisadores da Embrapa passaram a denominar este gado de “Crioulo Lageano” em seus trabalhos científicos. Indiscutivelmente, o atual rebanho de gado crioulo lageano descende de matrizes e reprodutores selecionados em fazendas localizadas no planalto lageano, ou seja, nos campos de altitude do planalto sul brasileiro. O gado crioulo lageano pertence indiscutivelmente ao tronco do Bos taurus ibericus.
Embora sob acompanhamento de pesquisadores da Embrapa, UFSC, UDESC e Epagri, o rebanho de gado crioulo lageano encontra-se bastante reduzido e sob ameaça de extinção.
Duarte, J. R. 2010. Especial para o site https://fazendagrande.net/
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